Depoimentos à Polícia Federal obtidos com exclusividade pelo Fantástico
reforçam as acusações contra o desembargador Hélcio Valentim de Andrade Filho,
afastado desde 2011 de suas funções no Tribunal de Justiça de Minas Gerais e
alvo de ação penal no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ele é acusado de ter
recebido propina para conceder habeas corpus a traficantes de drogas. Procurado,
Andrade Filho negou as acusações.
Acusados dos crimes de formação de quadrilha e corrupção, o comerciante
Tancredo Tolentino (amigo do magistrado) e o advogado Walquir Avelar Júnior (que
defendia os criminosos) confirmaram à PF que os presos compraram decisões
judiciais para deixar a cadeia de Divinópolis (MG), onde aguardavam julgamento
após terem sido flagrados com cerca de 60 kg de pasta-base de cocaína.
O advogado diz que Tolentino pediu R$ 150 mil para conseguir a liberdade dos
traficantes - R$ 80 mil teriam sido entregues pessoalmente ao desembargador. "A
investigação foi muito bem feita. São provas contundentes dessa atuação
criminosa", afirma o procurador da República Eitel Santiago de Brito
Pereira.
Depois da sentença, os traficantes desapareceram. Foram
condenados à revelia (sem a presença no julgamento) e, hoje, são considerados
foragidos da Justiça.
Segundo a investigação da Polícia Federal, pelo
menos mais um criminoso teria sido beneficiado por uma decisão do desembargador.
Um vídeo mostra quando o pai do advogado Walquir Avelar Júnior sai de um banco
com R$ 48 mil. O dinheiro está escondido na camiseta e, de acordo com a PF, foi
entregue, a mando de um criminoso, ao juiz.
Outro lado
"Sempre tive
uma vida limpa, ao longo de uma carreira sólida. Decidi, em todos os casos,
conforme as minhas convicções e o direito, com a devida fundamentação. Lamento
profundamente os reflexos que esses fatos trazem na vida dos meus filhos. Nego
todos eles com a reunião das minhas últimas forças”, declarou o desembargador em
áudio encaminhado ao Fantástico.
Advogado do desembargador, Leonardo
Costa Bandeira diz desconhecer o teor dos depoimentos que incriminam seu
cliente. "Esses depoimentos vão ser reproduzidos na fase do processo. Aí nós
vamos ter a oportunidade de demonstrar que isso definitivamente nunca
existiu."
Fonte: 180 Graus