| 11 Julho 2012
Internacional - Estados Unidos
Internacional - Estados Unidos
Tudo
aquilo que no Ocidente se vendeu, se louvou e se criticou sob o nome de
“anticomunismo” nunca passou da resposta fraca e tardia de vítimas
atônitas a uma estratégia abrangente e de longo prazo, cujo alcance mal
chegavam a vislumbrar.
Se há uma coisa óbvia, é que a narrativa predominante na mídia, no show business e nos meios intelectuais, quando não determina desde já o curso dos acontecimentos políticos, terminará por determiná-lo mais dia menos dia.
Nos
EUA, há pelo menos três décadas essa narrativa reproduz ponto por
ponto, sem citar a fonte nem, é claro, imitar-lhe o estilo, o discurso
da propaganda anti-americana posta em circulação desde o fim da II
Guerra pelo governo da URSS.
Não
há acusação, não há mito depreciativo, não há estereótipo difamatório
comprovadamente comunista que não tenha sido absorvido pelas grandes
agências formadoras de opinião na América e repassado à população como
autêntico produto made in USA, dado do senso comum ou crença
espontânea das pessoas de bem. Dos episódios McCarthy, Alger Hiss e
Rosenberg em diante, não houve mentira soviética que não fosse
alegremente subscrita pelo establishment, só para acabar sendo
desmentida por provas documentais irrefutáveis trinta ou quarenta anos
depois, tarde demais para que seus efeitos políticos pudessem ser
revertidos (v. Ronald Radosh, The Rosenberg File, 1997; E. Stanton Evans, Blacklisted by History, 2007; Christina Shelton, Alger Hiss: Why He Chose Treason, 2012).
Como
a matéria-prima desses engodos aparece sempre remodelada em linguagem
local e adaptada aos sentimentos usuais do público americano, ninguém ou
quase ninguém se lembra de rastrear-lhe a origem. Quem o fizesse teria
de acabar concordando com aquilo que disse Malachi Martin: que ao longo
do último século só houve uma força agente no cenário internacional – a
URSS. Os personagens em torno não tiveram iniciativa própria:
limitaram-se a adaptar-se, às pressas e desastradamente, a situações
criadas pelos diretores de cena soviéticos, cujos cálculos antecipavam
suas reações e tiravam proveito delas.
Tudo
aquilo que no Ocidente se vendeu, se louvou e se criticou sob o nome de
“anticomunismo” nunca passou da resposta fraca e tardia de vítimas
atônitas a uma estratégia abrangente e de longo prazo, cujo alcance mal
chegavam a vislumbrar.
Poucas
coisas ilustram a noção de “resposta passiva” tão claramente quanto a
política americana de “contenção”, que pretendeu traçar limites à
expansão do Império soviético, política que na época a caipirice
ocidental enalteceu como um primor de genialidade estratégica e a
hipocrisia comunista, mal contendo o riso, condenou como o suprassumo da
intrusão imperial ianque. Tudo o que ela conseguiu fazer foi limitar a
ação do próprio Ocidente, enquanto a URSS espalhava livremente seus
tentáculos pela Ásia, pela África, pela America Latina e, é claro, pelas
altas esferas intelectuais e midiáticas dos EUA.
Mas
talvez a obra-prima da impotência patética tenha sido a insistência dos
governos ocidentais na falsa esperteza de jogar contra a URSS os
“anticomunistas de esquerda”.
Faziam isso na alegada esperança de
dividir as hostes comunistas, quando na verdade tudo o que aqueles
esquerdistas democráticos propunham já estava antecipadamente integrado
nos planos soviéticos para a grande farsa da “queda da URSS”, que em
menos de uma década viria a transfigurar a morte aparente do movimento
comunista numa ressurreição triunfal e numa sucessão de vitórias
espetaculares (v. Jean-François Revel, La Grande Parade: Essai sur la Survie de l’Utopie Socialiste, 2000), aí incluída, logo depois, a eleição de um de seus mais fiéis servidores para a presidência dos EUA.
Até
os mais legítimos conservadores insistem em enxergar as transformações
esquerdizantes da sociedade e da política americanas como resultados de
processos autóctones, da ação dos seus execrados liberals, sem
querer admitir que estes últimos nunca, nunca tiveram a iniciativa
intelectual desses processos, limitando-se a ecoar e repassar, na
linguagem tradicional da democracia, os slogans e chavões da
propaganda comunista internacional. Hipnotizada por uma espécie de
patriotismo cognitivo, a nata do conservadorismo americano imagina
residir no seu país a fonte criadora de tudo o que de bom e de mau
acontece no mundo, e assim acaba por lançar sobre os genuínos autores do
enredo um manto de invisibilidade protetora.
Obsessivamente empenhados,
sobretudo, em escapar à pecha de “teóricos da conspiração”, aqueles
devotos guardiões do americanismo apegam-se às explicações que pareçam
mais verossímeis ao público geral, isto é, precisamente aos menos
qualificados para opinar em matérias tão complexas e labirínticas. Por
medo de tornar-se objeto de riso dos ignorantes, rebaixam-se
propositadamente ao nível da estupidez mediana, sacrificando sua
inteligência num ritual de autocastração ante o altar das aparências
respeitáveis.
Querem
outro exemplo? Depoimentos e mais depoimentos, documentos e mais
documentos comprovam que o radicalismo muçulmano não brotou
espontaneamente da sociedade islâmica, da cultura islâmica, mas foi
criado pelos serviços de inteligência soviéticos e é ainda alimentado e
monitorado por agentes russos (leiam Ion Mihai Pacepa em http://www.nationalreview.com/articles/218533/ russian-footprints/ion-mihai-pacepa e Claire Berlinski em http://www.tabletmag.com/ jewish-news-and-politics/103576/the-cold-wars-arab-spring).
Apesar disso, o governo americano continua tratando Vladimir Putin como
parceiro confiabilíssimo, enquanto os intelectuais conservadores
produzem toneladas de retórica piedosamente cristã para lançar a culpa
do terrorismo em tradições corânicas de quatorze séculos, ajudando a
ação da KGB-FSB a recobrir-se da camuflagem islâmica que, precisamente,
estava nos seus planos desde o início.
fonte: midia sem mascara
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